Dados do Trabalho


Título

RELATO DE CASO - CARCINOMA DE CÉLULAS CLARAS DECORRENTE DE ENDOMETRIOSE DA PAREDE ABDOMINAL

Introdução

A prevalência da malignização de endometriose de parede abdominal é baixa, com poucos casos descritos na literatura mundial. Entre 1986 e 2023, foram apresentados apenas 39 casos de carcinoma de células claras decorrente de endometriose de parede abdominal, e sua raridade influencia negativamente para que seja possível traçar um plano terapêutico adequado

Objetivo

Relatar caso de carcinoma de células claras decorrente de endometrioma

Casuística

1 paciente

Método

Relato de caso

Resultados

Paciente de 43 anos, com cirurgia cesariana prévia, e com diagnóstico de carcinoma de células claras decorrente de endometriose de parede abdominal. O tumor formava volumosa massa, de aproximadamente 8 centímetros, com invasão de todas as camadas da parede abdominal inferior e ulceração para a pele. Havia metástase para pulmões e linfonodos pélvicos e inguinais bilateralmente. Foi submetida a quimioterapia entre abril e agosto de 2017, com Carboplatina e Taxol, com resposta clínica pobre. Como mantinha ferida ulcerada abdominal, foi feita em agosto de 2017 uma cirurgia higiênica com ressecção do tumor primário e linfadenectomia inguinal. A reconstrução de parede abdominal foi feita com a utilização de tela dupla face (Proceed) e retalho fasciocutâneo de pedículos superior e lateral com cicatriz final mimetizando a de uma abdominoplastia em flor-de-lis, o que deixou a paciente muito satisfeita - apesar do prognóstico reservado previamente informado -. Os resultados imunohistoquímicos apresentaram positividade das células neoplásicas nas reações com os anticorpos anti-AE1/AE3 e anti-CK7 e negatividade na reação pelo anticorpo anti-CK20. O painel complementar evidenciou a positividade das células de interesse nas reações com os anticorpos anti-BER-EP4, anti-GCDFP-15, anti-CEA, e anti-Vimentina. Após este procedimento cirúrgico retornou tratamento quimioterápico paliativo. Evoluiu com progressão de doença com linfangite pulmonar e metástases cerebrais. O óbito ocorreu após 18 meses de tratamento cirúrgico, por complicações decorrentes da doença metastática, sem recidivas do ponto de vista local.

Conclusões

A malignização da endometriose de parede abdominal é rara, e costuma acometer pacientes com cirurgias abdominais ou ginecológicas prévias. Dentre os subtipos celulares mais comuns desta patologia, o adenocarcinoma endometrioide é encontrado com mais frequência, enquanto o adenocarcinoma de células claras tem prevalência de apenas 5%. O diagnóstico é histopatológico e imuno-histoquímico. As opções de tratamento costumam ser limitadas, dentre 39 casos analisados, apenas 4 não optaram pela ressecção radical, com histerectomia total e salpingo-ooforectomia bilateral, podendo ou não ser associada com a quimioterapia e radioterapia. A utilização de exames de imagem complementares é de extrema importância para traçar a conduta e guiar o prognóstico dos pacientes, uma vez que muitos casos cursam com metástases agressivas, como o caso relatado neste trabalho. Entretanto, apesar destes pacientes com doença metastática estarem fora de proposta cirúrgica curativa, a abordagem cirúrgica higiênica mostra-se fundamental para o tratamento integral, satisfação e melhor qualidade de vida dos pacientes com doença avançada.

Fotos e tabelas

Referências

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Palavras Chave

ENDOMETRIOSE; Carcinoma de células claras; Cirurgia oncológica

Área

Tumores do útero/Endometrio

Instituições

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

MARIA ISABELLA OSÓRIO CAVALCANTI DE JARDIM SAYÃO, Alberto Oliveira da Costa Mota, Valter Alvarenga Júnior